quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Sobre esse homem que é de longe o melhor ser humano que um dia poderei conhecer... tudo sobre meu pai.



Dia 23 de setembro deveria ser um feriado, que homenageasse esses homens lutadores que vem do nordeste do Brasil desde muito jovens em busca de um sonho... hoje vou lhes contar sobre a trajetória de um deles: meu pai. Seu nome era José, mas seu apelido era trovão, por causa da sua voz grossa e poderosa e sua altura, era literalmente um grande homem em todos os sentidos... para mim ele era o painho...
Nasceu em Pernambuco... lugar lindo que vou conhecer no mês que vem, muito pobre com uma vida difícil na roça, desde os quatro anos já soube o quanto custa o suor do trabalho e o peso da enxada... Meu pai não falava muito de como era sua infância, não era um homem de ter o costume de reclamar, lembro-me que dizia que aprendeu francês na escola e não inglês e que gostaria que nós também tivéssemos aprendido, não terminou o primeiro grau. Era canhoto e na sua época de colégio sua professora lhe aplicava a palmatória para que escrevesse com “a mão certa”, a direita, porque ele bem sentiu na pele que a esquerda nunca foi muito bem aceita na sociedade... Porquê? Na época em que Lula fundara o Partido dos Trabalhadores meu pai o conhecia e freqüentava as reuniões de sindicato, era metalúrgico, torneiro mecânico e outras coisas mais... pouco estudo, muita inteligência e sabedoria...
Sempre nos incentivou a sonhar, acreditar e realizar nossos sonhos, embora ele mesmo não comentava se havia alcançado os seus... ele era amigo de todos, não posso dizer se a reciprocidade era algo concreto, apesar da pouca idade eu achava que ele era um pouco explorado por esses supostos amigos, acho que isso foi muito significativo para que eu soubesse discernir um amigo, ou mesmo que tipo de relação pode ser ou não considerada fraternal...
Ele era um homem simples, mas tinha amizade com qualquer pessoa de qualquer classe social, sentia-se muito a vontade de bermudas e chinelos, odiava gravatas e sapatos sociais, muito brincalhão e muito amoroso...
Certa noite estávamos voltando da casa de uma tia e ele tinha ganhado uma jaqueta nova que usou pela primeira vez naquele dia, estava um frio terrível e tinha um senhor na calçada que tremia muito(estava em situação de rua) meu pai depois de dialogar com ele tirou sua jaqueta e deu ao homem que pareceu imensamente agradecido... no caminho para casa(eu devia ter uns cinco ou seis anos) fiquei me perguntando porque meu pai estava ali tremendo de frio e deixou sua blusa novinha com aquele homem que ele nem conhecia, lembro que naquele dia aprendi que o coração de meu pai era muito maior que ele próprio, descobri que eu não deveria julgar as pessoas apenas pela aparência, que cada ser humano tem uma história, que nesse país as coisas estão muito erradas...
Era um homem que apreciava as artes, apesar de não ter muito acesso, valorizava muito a cultura dos povos e nos incentivava a ter gosto pelas artes, me incentivava a desenhar, nos colocou na aula de balé, queria que eu aprendesse a tocar violão... ele sempre me incentivava a ser sempre melhor do que sou:
“Nunca deixe ninguém te fazer duvidar que você pode realizar seus sonhos”
“Nunca se permita ser medíocre, aprenda sempre, faça bem o que já faz e queira sempre ser melhor que já é”
Quando ele faleceu, eu tinha 13 anos... na noite anterior ao seu falecimento eu sonhei com ele se despedindo de mim dizendo que não podia ficar, pois já tinha feito o que devia fazer, caminhou sobre o mar em direção a uma luz amarelada num céu avermelhado como no fim da tarde... acordei tão angustiada que não queria fazer outra coisa senão ver se ele estava bem... tinha doença de chagas, e costumava dormir sentado na mesa com uma pilha de travesseiros para manter o tronco ereto , pois tinha dificuldades para respirar... ao vê-lo naquela situação, meu coração acelerou em busca de ver seu corpo se mexer e ver que ele estava respirando, fiquei feliz ao vê-lo fazer isso... fui dormir.
No período da manhã estava com uns amigos conversando no quintal e isso me deixou ainda mais tranqüila, nesta época eu estudava a tarde, quando retornei as 11hs para tomar banho para ir a escola, ele estava deitado na cama assistindo Chapolin (que ele adorava) e eu olhei para aquela gargalhada tão única e me deu um aperto no peito, porque estava me sentindo triste? Tentei afastar esse pensamento, ele chamou minha mãe e pediu que procurasse uma receita médica que ele ia passar no hospital na parte da tarde... ele não reclamava... não sabia se ele estava sentindo dor... procuramos a receita, minha mãe e eu, enquanto fazíamos isso aquele sentimento muito ruim tomava conta de mim, pedi para minha mãe deixar eu faltar na escola, pois não me sentia bem, ela concordou e fui na casa da vizinha da rua de trás para avisá-la que eu não iria... minha mãe relatou depois que eu sai, achou a receita ele a segurou e começou a chorar e faleceu ali mesmo em seus braços...
Hoje, posso dizer que não teria local melhor para isso acontecer que não fosse ali nos braços dela, o amor de sua vida... a sua “pinha”(como ele costumava chamá-la)...
Aquele homem maravilhoso, como todos esses homens maravilhosos, que sempre teve uma vida difícil, que me ensinou tantas coisas, que se tornou a voz da minha consciência, meu guia, meu herói, meu modelo, minha referência... quero homenagear esse alguém que saiu da minha vida muito cedo, mas que nunca em um milhão de anos vou esquecer o seu legado. Você foi tudo pra mim... esse grande homem da minha vida: meu pai.
Nunca vou te esquecer, sinto sua falta todos os dias, prometo sempre lhe deixar orgulhoso.
TE AMO!!!!

2 comentários:

Ana... disse...

Gostei, homenagem bem bonita, texto bem bonito. :))
Incrível, como algumas coisas, ficam (sempre) passeando dentro de nós. Consegui ter 1 boa ideia de como era, graças ao texto. Um bom homem, que merecia viver mais, fazer horas extras aqui, várias.
Uma pena, pq algumas coisas não conseguimos mudar,pois estão além de qualquer força humana.

Bom, que vc guardou o melhor da relação, fragmentos que devem ser (re)lembrandos sempre.

Seu cantinho, o verborragia, está a cada dia mais pessoal, quase um diário. E eu gosto muito, gosto q ele fique assim. Apenas não cometa erros dos quais não venha si perdoar, pq esse caminho é sem volta. Um belo dia, vc resolve escrever e quando vê está lá, de novo, e de novo e novamente. Pq? Pq gritar sem fazer barulho é bom. E faz um bem danado :)). Mesmo com todos os erros, atropelos, gafes, lamentações, chatiações, tédios, enfim, mesmo com tudo e tanto, eu continuo gritando. Até quando? Não faço ideia, talvez, até q durem os dedos, os pensamentos e os sentimentos. E quando velhinha, der o último suspiro, peça a Deus para ficar mais um pouco,um poucochinho mais, só um pouco pq aprendi a escrever agora, e não quero parar de gritar...

É isso: "escrever é gritar sem fazer barulho" e este grito foi lindo nega!

um beijo grande miguxa.

:))

Ana... disse...

ah,

Quem dera,não posso fazer uma. Voltar, olhar o passado, quando si trata dele (pai), é complicado.

Sorte daqueles que têm, boas coisas para dizer, escrever.Fico com a tarefa de parar qualquer dia, estacionar e tentar lembrar de algo bom.
Vou me esforçar, para que nada seja triste d+ rsrsrsrrsrsrrssrrs ;hahahahhahah, pegue um lençõ por favor ...rsrrsrs :))

aiai.


Enfim, mil coisas.

bay