sábado, 27 de novembro de 2010

Ato contra o racismo na PUC-SP... Carta de uma mulher negra aos racistas de plantão!


Hoje o ato contra o racismo praticado por uma aluna do Direito à outra foi muito importante, pois marcou a juventude negra que está alerta e em busca de seus direitos na luta pela igualdade social pautada no respeito às diferenças.




Pela primeira vez me vi envolvida de forma tão particular a uma luta que não é apenas estudantil é uma luta histórica e que permeia a luta dos negros ao redor do mundo. Quando falei na tribuna senti que não falei tudo que eu gostaria e aqui agora quero publicizar o que falei lá e acrescentar aquilo que não consegui expressar:




Como mulher, negra e bolsista desta universidade quero deixar claro que nós não vamos admitir nenhum ato de racismo, sou negra, oriunda de familia pobre e já fiquei em situação de rua como hoje em dia a maioria que está na rua são os negros, são para nós que restaram os cargos subalternos, nós ainda somos mortos pelos capitães do mato a serviço do estado sob a desculpa de estarem perseguindo suspeitos. Porque nenhum classe média branco é confundido com suspeito? Porque a cor do negro é a cor do suspeito, como disse o Caio Blat no curta : a "cor padrão" do suspeito.


Durante anos a população negra tem sofrido pelo racismo, nos negaram a nossa história, nosso direito de andar na rua sem ser incomodado pelos heróis de nada, ainda somos a maioria nas favelas, nos negam a possibilidade de entrar num banco sem que a porta com detector de preto apite, se entramos numa loja a vendedora vem com a maldita pergunta "Pois não?", mas não querendo ajudar, com aquele tom de "O que vc está fazendo aqui?", para nos relembrar que há certos espaços em que não somos bem vindos... Isso quando não somos completamente ignorados quando acham que não temos condições financeiras para comprar.

Nos pintam nas escolas como a raça que se entregou de bandeja, como se a vinda dos escravos tivesse sido algo pacífico e de mutuo acordo, como se o negro estivesse todo preguiçoso lá na Africa e tivesse sido trazido gentilmente para esta terra que até hoje nos trata como se não tivessemos direito à ela...

Não estamos mais na condição de vítimas portanto não tenham pena de nós, nessa suposta democracia do estado de direito estamos em condições de iguais, então não falo como vitimizada, mas como membro de uma classe que exige que suas reinvidicações sejam atendidas:


_ não queremos ser iguais, pois somos todos diferentes, mas queremos ser respeitados na nossa diferença sem ser massacrados por outros que se acham superiores.

_ queremos que a lei aprovada de ensino da cultura negra das escolas seja cumprida, mas com a verdadeira história a ser contada e não essa história pra boi dormir de escravo passivo e indio de tanguinha que nem se preocupa com as lutas e seus direitos.

_ exigimos que qualquer um que cometa um ato de racismo responda por seu ato perante a lei na justiça.

_ exigimos que as universidades sejam ocupadas em pé de igualdade para todos aqueles que desejam ingressar independente de raça ou classe social. Ensino gratuito e de qualidade para todos.

_ que aqueles que trabalham na justiça sejam de fato justos! E que se qualquer estudante manifestar atitudes de preconceito não possa assumir cargo de juiz que segundo um código de ética deve ser imparcial.

_ que essa democracia deixe de ser fajuta e comece a atender aqueles que estão à margem.


_ não queremos mais que o negro, o pobre e nem os movimentos sociais sejam criminalizados!

E uma coisa vai ai para aqueles que ainda não entenderam: Parem de praticar esses atos de racismo, pois os alunos de serviço social estão alertas e prontos para denunciar e recorrer aos orgão responsáveis para tomar as medidas cabíveis. Não vamos admitir que isso se repita e se vier estaremos unidos e preparados!!!
Nós não vamos nos calar! Nunca!!!

Vem, vem, vem pra luta vem a PUC é nossa!
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Um comentário:

Maria Gomes disse...

Fantástico esse texto Lilian, conte com meu apoio nessa luta!
Esse ato e tantos outros merecem os piores dos repúdios...
Chega do silêncio a esses atos sórdidos!